Quando o desgostar atrapalha
a nossa aprendizagem
Era o primeiro dia da aula
de redação quando perguntei ao estudante por que ele queria aprender a
escrever. Fique surpreso quando ele disse que detestava redação, que era uma
disciplina dolorosa e necessária. Nas palavras do adolescente as aulas de escrita
eram “um castigo”, um “fardo valioso”.
Ele era obrigado a estudar
para conseguir coisas na vida, mas se pudesse não aprenderia redação.
Passei então a falar da
minha experiência como aprendiz e disse a ele que tinha paixão por todas as
disciplinas, pois achava muito bonito saber que em biologia poderia entender
melhor a questão da sustentabilidade, tão em voga hoje. Comentei também sobre o
meu gosto pela matemática, mesmo não sendo um aluno de alto nível das exatas.
Depois comparei a matemática
com a língua portuguesa, apresentando as proximidades entre os números e os
textos; mostrei um pouco a afinidade entre a lógica existente na análise
sintática e nos exercícios de equações.
Ele foi embora e fiquei
pensando no mundo do trabalho e de como as pessoas chegam à vida profissional
com traumas oriundos de alguma disciplina, não sabendo nós que a soma de todas
as disciplinas gera a vida cotidiana, mesmo quando esses saberes são apresentados
a nós de forma compartilhada, em um isolamento que nos afasta da realidade.
Mas é no trabalho que essa
ojeriza por determinadas áreas do saber se tornam mais evidentes, quando a
pessoa cria um mundo mágico, pensando que só será feliz ao realizar algo exclusivo
na vida: o exercício da profissão “X”, não sabendo que a gente pode se
experimentar em várias áreas do conhecimento e descobrir coisas interessantes
sobre as próprias competências.
Depois da idade adulta, um
amigo me procurou e disse que eu, na verdade, não era expert em nenhuma
disciplina, mas que procurava aprender todas indistintamente. Acho que isto me
ajudou a não me prender a determinada profissão ou área do saber. Para mim todo
e qualquer conhecimento faz parte da vida, que precisa ser experimentada.
Durante a educação básica
esse não apego a uma disciplina era até um problema para mim, pois achava
estranho gostar de tanta coisa. Eu tinha medo de não me aprofundar em nada e me
tornar um generalista.
Hoje olho para minha
história de vida profissional e percebo que tentei viver cada disciplina quando
esta se aproximou de mim e, a partir daí, comecei a buscar oportunidades de
trabalhar melhor.
Foi possível perceber também
que o navegar em diversas disciplinas durante a infância e a adolescência me
ajudou a fazer melhores escolhas na idade adulta e ainda a lidar melhor com as
disciplinas que eu não tinha tanto domínio assim.
O grande aprendizado da
juventude foi não me furtar de aprender e descobrir o que existia de maravilhoso
nas áreas às qual eu inicialmente tinha distanciamento ou ojeriza. Na prática,
não gostar de uma disciplina era um desafio para aprender mais.
Ainda estamos no início da
caminhada, mas percebi que aquele jovem do início do texto começa a flertar com
a aprendizagem da escrita e está construindo o próprio caminho em travessias de
áreas do saber de que ele não gosta tanto.
Até a próxima!
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