02/03/2020

Quando a aversão atrapalha a aprendizagem

Quando o desgostar atrapalha a aprendizagem


Quando o desgostar atrapalha a nossa aprendizagem

Era o primeiro dia da aula de redação quando perguntei ao estudante por que ele queria aprender a escrever. Fique surpreso quando ele disse que detestava redação, que era uma disciplina dolorosa e necessária. Nas palavras do adolescente as aulas de escrita eram “um castigo”, um “fardo valioso”.

Ele era obrigado a estudar para conseguir coisas na vida, mas se pudesse não aprenderia redação.

Passei então a falar da minha experiência como aprendiz e disse a ele que tinha paixão por todas as disciplinas, pois achava muito bonito saber que em biologia poderia entender melhor a questão da sustentabilidade, tão em voga hoje. Comentei também sobre o meu gosto pela matemática, mesmo não sendo um aluno de alto nível das exatas.

Depois comparei a matemática com a língua portuguesa, apresentando as proximidades entre os números e os textos; mostrei um pouco a afinidade entre a lógica existente na análise sintática e nos exercícios de equações.

Ele foi embora e fiquei pensando no mundo do trabalho e de como as pessoas chegam à vida profissional com traumas oriundos de alguma disciplina, não sabendo nós que a soma de todas as disciplinas gera a vida cotidiana, mesmo quando esses saberes são apresentados a nós de forma compartilhada, em um isolamento que nos afasta da realidade.

Mas é no trabalho que essa ojeriza por determinadas áreas do saber se tornam mais evidentes, quando a pessoa cria um mundo mágico, pensando que só será feliz ao realizar algo exclusivo na vida: o exercício da profissão “X”, não sabendo que a gente pode se experimentar em várias áreas do conhecimento e descobrir coisas interessantes sobre as próprias competências.

Depois da idade adulta, um amigo me procurou e disse que eu, na verdade, não era expert em nenhuma disciplina, mas que procurava aprender todas indistintamente. Acho que isto me ajudou a não me prender a determinada profissão ou área do saber. Para mim todo e qualquer conhecimento faz parte da vida, que precisa ser experimentada.

Durante a educação básica esse não apego a uma disciplina era até um problema para mim, pois achava estranho gostar de tanta coisa. Eu tinha medo de não me aprofundar em nada e me tornar um generalista.

Hoje olho para minha história de vida profissional e percebo que tentei viver cada disciplina quando esta se aproximou de mim e, a partir daí, comecei a buscar oportunidades de trabalhar melhor.

Foi possível perceber também que o navegar em diversas disciplinas durante a infância e a adolescência me ajudou a fazer melhores escolhas na idade adulta e ainda a lidar melhor com as disciplinas que eu não tinha tanto domínio assim.

O grande aprendizado da juventude foi não me furtar de aprender e descobrir o que existia de maravilhoso nas áreas às qual eu inicialmente tinha distanciamento ou ojeriza. Na prática, não gostar de uma disciplina era um desafio para aprender mais.

Ainda estamos no início da caminhada, mas percebi que aquele jovem do início do texto começa a flertar com a aprendizagem da escrita e está construindo o próprio caminho em travessias de áreas do saber de que ele não gosta tanto.


Até a próxima!



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