11/11/2019

Em vez de empreendedorismo, precisamos de mais cidadania

Em vez de empreendedorismo, precisamos de mais cidadania


Quando um país está em crise, surgem ideias milagrosas para resolução dos problemas socioeconômicos. Na década de 1990, a palavra de ordem era empregabilidade.

Naquele período apareceram muitos influenciadores de negócios que tentavam incutir a ideia de que o trabalhador deveria ter autonomia no próprio desenvolvimento profissional e buscar o aperfeiçoamento permanente para que sempre ficasse em situação de “empregável”. Parece que esse movimento saiu de moda e não há mais tantas palestras ou estudos sobre o tema.

Depois de 2018, com a crise econômico-financeira mundial, surgiu a ideia do empreendedorismo: agora o trabalhador precisa se desfocar da ideia de vínculo empregatício e buscar o negócio próprio, mesmo quando ele está atuando dentro de uma empresa.

Não bastasse o empreendedorismo vir em avalanche, como aconteceu o movimento a ideia da empregabilidade, agora as escolas de educação básica também resolveram incluir uma disciplina sobre o assunto para desenvolver o espírito empreendedor nas crianças e adolescentes.

Iniciativas de discussão de temas como empreendedorismo ou empregabilidade deveriam ser inseridas em disciplinas maiores como cidadania, pois antes de pensar em empreender, precisamos aprender a conviver.

Imagine a situação de crianças de 10 anos discutindo com montar negócios e coisas do tipo sem ter aprendido os rudimentos da cidadania como: o funcionamento do Estado ou as dinâmicas do mercado de trabalho?

Disciplinas específicas como empreendedorismo tiram das crianças e dos adolescentes a possibilidade de pensarem por si o que elas desejam ser, tanto no presente, quanto no futuro.

Há pessoas que gostam de trabalhar em liderança, outras adoram negociar, há ainda as que desejam conhecer o funcionamento das leis, assim como há as que adoram trabalhar com cálculos.

Passar 12 anos estudando empreendedorismo, como estão se estruturando alguns currículos da educação básica, é como caminhar em via única as questões da cidadania, em que as pessoas, todas as pessoas, precisam ser empreendedoras.

Enquanto isto haja pessoas sem preocupação com a ética e com o direito do outro, que não respeitam a natureza, mas sendo formadas para empreender, empreender e empreender.

Aqui não se está negando a possibilidade de as crianças aprenderem os rudimentos do empreendedorismo. Isto é necessário, mas se questiona a aprendizagem unidirecional, fechada de possibilidades profissionais outras.

O interessante é que já existem livros didáticos para a área com viés bem teórico e superficial. É a indústria do livro didático. Na prática, as crianças não vão ter interessem em ler os conteúdos, pois o que a juventude deseja é diversidade. Elas não são robôs do mercado de trabalho, elas são cidadãs, que necessitam ir ao mercado de trabalho para a sobrevivência e construção de um mundo melhor.

Estamos voltando aos séculos XIX e XX, o padrão profissional era os jovens serem médicos ou advogados. Precisamos adentrar o século XXI. Ele está aqui há 19 anos; precisamos sair das fileiras das fábricas e pensar mundos corporativos melhores, em que o cidadão vá para empresas como seres pensantes, integrais e múltiplos.

Precisamos de mais cidadania.


Até a próxima!






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