Quando um país está em crise,
surgem ideias milagrosas para resolução dos problemas socioeconômicos. Na década de 1990, a
palavra de ordem era empregabilidade.
Naquele período apareceram muitos influenciadores de negócios que tentavam
incutir a ideia de que o trabalhador deveria ter autonomia no próprio
desenvolvimento profissional e buscar o aperfeiçoamento permanente para que
sempre ficasse em situação de “empregável”. Parece que esse movimento saiu de
moda e não há mais tantas palestras ou estudos sobre o tema.
Depois de 2018, com a crise econômico-financeira mundial,
surgiu a ideia do empreendedorismo: agora o trabalhador precisa se desfocar da
ideia de vínculo empregatício e buscar o negócio próprio, mesmo quando ele está
atuando dentro de uma empresa.
Não bastasse o empreendedorismo vir em avalanche, como
aconteceu o movimento a ideia da empregabilidade, agora as escolas de educação
básica também resolveram incluir uma disciplina sobre o assunto para desenvolver
o espírito empreendedor nas crianças e adolescentes.
Iniciativas de discussão de temas como empreendedorismo ou
empregabilidade deveriam ser inseridas em disciplinas maiores como cidadania,
pois antes de pensar em empreender, precisamos aprender a conviver.
Imagine a situação de crianças de 10 anos discutindo com
montar negócios e coisas do tipo sem ter aprendido os rudimentos da cidadania
como: o funcionamento do Estado ou as dinâmicas do mercado de trabalho?
Disciplinas específicas como empreendedorismo tiram das
crianças e dos adolescentes a possibilidade de pensarem por si o que elas
desejam ser, tanto no presente, quanto no futuro.
Há pessoas que gostam de trabalhar em liderança, outras
adoram negociar, há ainda as que desejam conhecer o funcionamento das leis,
assim como há as que adoram trabalhar com cálculos.
Passar 12 anos estudando empreendedorismo, como estão se
estruturando alguns currículos da educação básica, é como caminhar em via única
as questões da cidadania, em que as pessoas, todas as pessoas, precisam ser
empreendedoras.
Enquanto isto haja pessoas sem preocupação com a ética e com
o direito do outro, que não respeitam a natureza, mas sendo formadas para
empreender, empreender e empreender.
Aqui não se está negando a possibilidade de as crianças
aprenderem os rudimentos do empreendedorismo. Isto é necessário, mas se
questiona a aprendizagem unidirecional, fechada de possibilidades profissionais
outras.
O interessante é que já existem livros didáticos para a área
com viés bem teórico e superficial. É a indústria do livro didático. Na
prática, as crianças não vão ter interessem em ler os conteúdos, pois o que a
juventude deseja é diversidade. Elas não são robôs do mercado de trabalho, elas
são cidadãs, que necessitam ir ao mercado de trabalho para a sobrevivência e
construção de um mundo melhor.
Estamos voltando aos séculos XIX e XX, o padrão profissional
era os jovens serem médicos ou advogados. Precisamos adentrar o século XXI. Ele
está aqui há 19 anos; precisamos sair das fileiras das fábricas e pensar mundos
corporativos melhores, em que o cidadão vá para empresas como seres pensantes,
integrais e múltiplos.
Precisamos de mais cidadania.
Até a próxima!
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