22/04/2019

Cuidado com o fetiche dos nativos digitais

Imigrantes digitais e nativos digitais


Em 2001 Marc Prensky publicou um artigo que trazia duas ideias novas sobre a sociabilidade do final do século XX; o texto tratava das questões das pessoas nativas digitais: as que nasceram após o boom da Internet, e das pessoas emigrantes digitais: as que nasceram antes do surgimento da WEB.

Para Marc os nativos digitais tinham mais proximidade com o mundo WEB e atuavam com desenvoltura na manipulação das tecnologias da informação e comunicação (TIC).

As ideias de Prensky eram muito pertinentes para o início do milênio e influenciaram muita gente nos mundos corporativo e educacional.

De tanto repetir as ideias de Marc Prensky, o mundo acadêmico e corporativo acabou por criar um paradigma de convivência, em que as pessoas nascidas antes de 2000 eram distantes e estranhas aos usos das TIC.

Mas não é que em 2009, Marc Prensky lança um novo artigo em que revisita os conceitos acima e apresenta nova proposta de percepção da cultura digital?

No segundo artigo o autor discorreu sobre a perspectiva da sabedoria digital. No texto ele argumento que tantos os nativos quanto os emigrantes estão inseridos como sujeitos com potencialidade para se organizar e interagir no mundo WEB. Acabou-se um paradigma!

Afinal de contas já se passaram 18 anos do primeiro artigo, e nesse período muitos dos chamados emigrantes digitais se aproximaram mais e mais da WEB e hoje a rede mundial, permeada de TIC, já não é tão estranha assim para os cidadãos do século XXI.

Apesar de Marc ter lançado um artigo de revisão em 2009, muita gente ainda defende os pressupostos contidos no primeiro artigo do autor. E é aí que nasce um Fetiche.

São escolas de formação de adultos que ainda possuem visão estereotipada dos educandos, achando que só porque alguém é jovem possuirá mais domínio das tecnologias do que os imigrantes. Que coisa, hein!

Isto acontece em empresas consideradas modernas: pessoas são selecionadas por meio de classificação etária quando o assunto é tecnologia e WEB. Que visão estereotipada, não?

Considerar se uma pessoa domina ou não a mediação das TIC WEB somente por levantamento de idade é uma ilusão.

Para quem trabalha com educação, o bom é que os profissionais se aprimorem em fazer análise de contexto, para verificar o nível de capacitação que o educando tem de interagir na Rede. A partir disto é que se pode realizar práticas de ensino-aprendizagem mais coerentes com a realidade.

Já nas empresas, os processos seletivos e os programas de identificação de talentos também precisam se aprimorar para que haja levantamentos do real valor que os trabalhadores possuem quanto à construção da cultura digital.

Marc Prensky demonstrou com a revisão dos conceitos, o quanto nós profissionais devemos estar antenados quanto aos novos contextos que nos são apresentados pela dinâmica da realidade. Ainda mais a dinâmica deste início de milênio, em que o volume de informações pode deixar as pessoas confusas quanto ao destino que terão.

Os Fetiches podem ocultar coisas essenciais para o conhecimento da realidade. Por isto precisamos de mais cuidado na hora de estabelecer perfis de competência do homem contemporâneo.

Há necessidade de fomentarmos a criação de um mundo onde seja possível participação de todos, e a ótica da faixa etária precisa ser vista como muito cuidado.