Que deseja a educação corporativa?
O que o trabalhador espera ao concluir um
treinamento é de ser capaz de realizar algo novo na empresa com competência.
Se ele vai fazer um curso de fluxo de caixa, o
interesse não é apreender todas as teorias da administração financeira, mas saber
realizar a gestão do movimento financeiro corporativo.
Isto não quer dizer que a teoria não importa, mas
sim que as especificidades da educação corporativa são diferentes da educação
formal que acontece nas escolas de educação básica e instituições de ensino
superior.
O caráter pragmático da educação corporativa
No ambiente corporativo, o caráter pragmático das
relações de trabalho é proeminente. O que prevalece são as ações, os
procedimentos e os processos.
Isto não é ruim, pois os clientes, os fornecedores,
os cidadãos e o Estado têm a expectativa de respostas rápidas e adequadas às
soluções oferecidas pelo empresariado.
A pragmática não está sozinha
Mas a educação corporativa não sobrevive somente
com os fundamentos da pragmática, ela é permeada pelas dimensões da
epistemologia e da ontologia também, que se entrelaçam para a promoção de uma
instituição que transpareça a imagem de empresa competente.
Pragmática, epistemologia e ontologia são palavras são difíceis de
entender?
Elas representam as dimensões da Prática, do
Conhecimento e do Ser respectivamente.
Pragmática porque as pessoas vão para sala de
aula para aprender algo que possam utilizar no atingimento dos objetivos
sociais das empresas de maneira célere e com qualidade.
Se os funcionários trabalham com vendas,
espera-se que eles possam criar comunicações corporativas que aproximem a
clientela da empresa, para que os negócios aconteçam.
Mas a pragmática não pode ser a única preocupação
da empresa. Ter habilidade em fazer algo é importante, mas é necessário também
conhecer o que se está fazendo. Aqui aparece a questão da epistemologia, ou
seja, os cursos corporativos também precisam trabalhar o conhecimento, discutir
teorias, formular conceitos.
Agora imagine uma corporação que tem funcionários
excelentes executores de práticas de trabalho, em processos devidamente
mapeados, mas não compreenderem como realizar tais processos? Apenas replicam o
que estão nos manuais? Como ficam a relações institucionais da empresa? Como
ficam a criatividade e a inovação tão necessárias ao desenvolvimento da empresa
do século XXI?
Pois é, conhecer e saber fazer são fatores
interligados na aprendizagem organizacional. Então a pragmática e a
epistemologia bastam?
O homem como centro do trabalho
Lembremos que a boa governança solicita que
desenvolvamos as competências das pessoas, e sabemos que competências envolvem
a articulação pertinente de conhecimentos, habilidades e
atitudes.
Então saber e saber fazer não bastam?
Precisamos acrescentar a dimensão ontológica como
alicerce da aprendizagem nas organizações.
De que adianta um trabalhador que conhece o
serviço, sabe executá-lo com presteza se este profissional age de maneira
negligente, sem responsabilidade ética ou prejudicando as pessoas?
O mundo corporativo precisa de profissionais que
consigam interagir com os diversos interlocutores de maneira autêntica e
efetiva. E quando este ser não está
bem, haverá reflexos nas relações internas da empresa, bem como nas relações
com clientes, fornecedores de sociedade.
Trabalhar o ontológico no trabalhador é agir de
maneira efetiva sobre as atitudes dos trabalhadores. Agir fazendo mediações
sucessivas, por meio de problematizações, incentivos e desafios. Não pode ser
por projetos de ações alienantes, normativas e sem sentido para os funcionários,
mas favorecendo o pensar conjunto que promove o desenvolvimento da empresa e
dos trabalhadores.
Afinal de contas as pessoas não são robôs. Elas
são sentimentos e emoções. Elas são impulsionadas por afetos e desafetos;
gostos e desgostos, prazeres e dores. Elas precisam se sentir autoras dos
processos de trabalho e úteis para a sociedade.
Cabe lembrar que responsabilidade social maior de
toda empresa é com os próprios funcionários, pois estes são os sustentáculos da
cultura organizacional.
Daí a dimensão ontológica ser o maior desafio de
toda empresa que deseje ter uma jornada perene nos negócios.
Quanto mais houver aproximação entre os valores
dos funcionários e os objetivos sociais das empresas, mais chances de
benefícios para todos poderão ocorrer.
E a educação corporativa poderá contribuir para
que haja aprendizagens organizacionais significativas, que articulem as
dimensões da pragmática, da epistemologia e da ontologia, resultando no desenvolvimento
efetivo de competências.
Até a próxima!