02/04/2019

Alicerces da educação corporativa

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Que deseja a educação corporativa?
O que o trabalhador espera ao concluir um treinamento é de ser capaz de realizar algo novo na empresa com competência.
Se ele vai fazer um curso de fluxo de caixa, o interesse não é apreender todas as teorias da administração financeira, mas saber realizar a gestão do movimento financeiro corporativo.
Isto não quer dizer que a teoria não importa, mas sim que as especificidades da educação corporativa são diferentes da educação formal que acontece nas escolas de educação básica e instituições de ensino superior.

O caráter pragmático da educação corporativa
No ambiente corporativo, o caráter pragmático das relações de trabalho é proeminente. O que prevalece são as ações, os procedimentos e os processos.
Isto não é ruim, pois os clientes, os fornecedores, os cidadãos e o Estado têm a expectativa de respostas rápidas e adequadas às soluções oferecidas pelo empresariado.

A pragmática não está sozinha
Mas a educação corporativa não sobrevive somente com os fundamentos da pragmática, ela é permeada pelas dimensões da epistemologia e da ontologia também, que se entrelaçam para a promoção de uma instituição que transpareça a imagem de empresa competente.

Pragmática, epistemologia e ontologia são palavras são difíceis de entender?

Elas representam as dimensões da Prática, do Conhecimento e do Ser respectivamente.
Pragmática porque as pessoas vão para sala de aula para aprender algo que possam utilizar no atingimento dos objetivos sociais das empresas de maneira célere e com qualidade.
Se os funcionários trabalham com vendas, espera-se que eles possam criar comunicações corporativas que aproximem a clientela da empresa, para que os negócios aconteçam.

Mas a pragmática não pode ser a única preocupação da empresa. Ter habilidade em fazer algo é importante, mas é necessário também conhecer o que se está fazendo. Aqui aparece a questão da epistemologia, ou seja, os cursos corporativos também precisam trabalhar o conhecimento, discutir teorias, formular conceitos.

Agora imagine uma corporação que tem funcionários excelentes executores de práticas de trabalho, em processos devidamente mapeados, mas não compreenderem como realizar tais processos? Apenas replicam o que estão nos manuais? Como ficam a relações institucionais da empresa? Como ficam a criatividade e a inovação tão necessárias ao desenvolvimento da empresa do século XXI?

Pois é, conhecer e saber fazer são fatores interligados na aprendizagem organizacional. Então a pragmática e a epistemologia bastam?

O homem como centro do trabalho

Lembremos que a boa governança solicita que desenvolvamos as competências das pessoas, e sabemos que competências envolvem a articulação pertinente de conhecimentos, habilidades e atitudes.

Então saber e saber fazer não bastam?

Precisamos acrescentar a dimensão ontológica como alicerce da aprendizagem nas organizações.
De que adianta um trabalhador que conhece o serviço, sabe executá-lo com presteza se este profissional age de maneira negligente, sem responsabilidade ética ou prejudicando as pessoas?
 
O mundo corporativo precisa de profissionais que consigam interagir com os diversos interlocutores de maneira autêntica e efetiva. E quando este ser não está bem, haverá reflexos nas relações internas da empresa, bem como nas relações com clientes, fornecedores de sociedade.

Trabalhar o ontológico no trabalhador é agir de maneira efetiva sobre as atitudes dos trabalhadores. Agir fazendo mediações sucessivas, por meio de problematizações, incentivos e desafios. Não pode ser por projetos de ações alienantes, normativas e sem sentido para os funcionários, mas favorecendo o pensar conjunto que promove o desenvolvimento da empresa e dos trabalhadores.

Afinal de contas as pessoas não são robôs. Elas são sentimentos e emoções. Elas são impulsionadas por afetos e desafetos; gostos e desgostos, prazeres e dores. Elas precisam se sentir autoras dos processos de trabalho e úteis para a sociedade.

Cabe lembrar que responsabilidade social maior de toda empresa é com os próprios funcionários, pois estes são os sustentáculos da cultura organizacional.

Daí a dimensão ontológica ser o maior desafio de toda empresa que deseje ter uma jornada perene nos negócios.

Quanto mais houver aproximação entre os valores dos funcionários e os objetivos sociais das empresas, mais chances de benefícios para todos poderão ocorrer.

E a educação corporativa poderá contribuir para que haja aprendizagens organizacionais significativas, que articulem as dimensões da pragmática, da epistemologia e da ontologia, resultando no desenvolvimento efetivo de competências.