O mundo dos arautos
Na série Roma, há um
personagem que anuncia os acontecimentos da Roma daquela época. Em volta do
mensageiro há pessoas curiosas, querendo saber das novidades.
Nos tempos atuais o
educador assume um papel parecido com deste personagem: de compartilhar o que
conhece com os outros.
Então quando se
pensa em sala de aula, a imagem do professor-expositor emerge: há uma pessoa no
centro, que conhece um assunto, que sabe falar, que é superior aos demais seres humanos: os
educandos.
O mundo da (ciber) cultura
Mas a nossa época
nos sinaliza outras formas de relacionamento em sala de aula, pois há pessoas
construindo filmes, postando criações fotográficas domésticas, criando enredos
para narrar a própria vida e escrevendo os próprios textos.
Elas estão
parafraseando e parodiando nas mídias sociais. Elas viraram o repórter do dia,
emitem opinião sobre as leis, compartilham soluções alternativas para
restabelecimento da saúde, opinam sobre as questões políticas. Elas não esperam
que alguém venha escrever a biografia delas. Elas estão cada vez mais
escrevendo sobre si.
Sinais dos tempos midiáticos
Esses são sinais de
que há necessidade de mudança em sala de aula.
Nós educadores
precisamos aproveitar essa tentativa de protagonismo dos cidadãos, que é tosca para uns, mas salutar para
outros, e criar situações de participação efetiva dessas pessoas na construção
da humanidade.
Nossa era é de
nuvens e nuvens de informações. Há mensagens em todo tempo e em todo lugar, por
isto já não é mais mérito dos educadores a centralidade da informação.
Precisamos lidar com isto; não vendo como um problema,
mas como uma grande oportunidade para desenvolvimento do homem contemporâneo.
A utopia da comunicação dialógica
Imaginemos um
ambiente de aula com educandos e educadores em interações de diálogo, quando o
discurso não se traduz em falas de monopólio, de um que tem o comando da
comunicação e os outros são os fiéis seguidores.
Neste mundo da
dialogia, o discurso se traduz em bidirecionamentos sucessivos proporcionados
por turnos de fala que se alternam de acordo com o contexto, de acordo com o
discurso coletivo que está sendo construído.
Comunicação com diálogo, pelo diálogo e para o diálogo
Há muito a
humanidade propõe a abordagem comunicativa por meio do diálogo. Isto não é de
agora. No tempo de Confúcio, de Sócrates, de Platão e de outros grandes
pensadores já havia a proposição comunicativa responsiva.
Comunicação
responsiva no sentido da Economia, como se fosse uma moeda de duas faces
intercambiadas para o homem trocar entre si ideias e valores. Comunicação para
a transitividade, em que as mensagens vão e voltam em movimentos de irradiação
e retroatividade.
Afinal de contas
estamos nos tempos da interação e da interatividade, e os homens querem
falar entre si tanto em situações face a face, quanto em situações mediadas pelas
tecnologias da informação e da comunicação.
Mas não é esta a
situação cotidiana de sala de aula e há até educadores que discursam em defesa
da "construção do conhecimento”, mas terminam por direcionar a conversação
para a comunicação expositiva e unilateral - do educador para o educando: sem volta.
Dialogar para aprendizagem pressupõe desenvolver competências de
busca constante de comunicação horizontalizada para estabelecer com os
interlocutores a formação de seres singulares que estão juntos para a promoção
da aprendizagem.
Dialogar para a vida
Dialogar é o
posicionamento político de permitir ao outro se expressar e comunicar-se de
forma significativa para o desenvolvimento humano.
O educador terá de
abrir mão do discurso-exposição em favor do discurso-conversação. Abrir mão
disto resulta em cessão de poderes.
Este contexto
exigirá do mediador apropriação de competências relacionadas à formação do ser
para o mundo da dialética.
Dialética da pergunta e da construção significativa do conhecimento; em outras palavras: criar espaços de
participações do outro com a realização de
atividades organizadas a partir de questões e problemas, invertendo a
estratégia discursiva do afirmar para o perguntar-afirmar-perguntar...
Acordar o discurso-conversação
O discurso-exposição
é um paradigma didático. E como todo paradigma necessita ser questionado para
que a humanidade evolua, avance, descubra outros patamares de construção do
conhecimento.
Chegou a hora de
emergir das práticas do discurso-exposição e criar oportunidades para a
construção efetiva do discurso-conversação.
Até a próxima!