Primeira Impressão
Feitiço do Tempo
pode ser visto como uma comédia simplória a ser assistida numa tarde da semana
“útil”, em que o interesse é consumir pipoca com refrigerante e se divertir com
uma história romântica adocicada.
Mas observando
por outro ângulo, Feitiço do Tempo nos oferta boas reflexões sobre o desgaste
existencial provocado pelas práticas repetitivas do cotidiano.
Digressão
Mas precisamos
fazer uma digressão e navegar nos enredos universais que nos ensinam a viver
melhor.
Mergulhemos na
história de Sísifo, um mito que vai além do tempo
Sísifo era uma
pessoa muito esperta. Um dia ele soube que a morte viria buscá-lo e criou
várias artimanhas para fugir do destino fatídico de todos homens e mulheres.
Dona Morte,
chateada com a situação, resolveu aplicar um castigo em nosso herói: Sísifo
teria de carregar até o topo de uma montanha uma grande pedra, e quando ele
chegasse ao topo, a pedra, inexplicavelmente, desceria, deixando nosso
personagem com a obrigação de tentar carregar a rocha novamente, em um
movimento contínuo e infinito.
Que terrível
essa sanção que faz Sísifo agir infinitamente em movimentos repetitivos!
O tempo enfeitiçado
Pois é
justamente em cima desse mito da repetição que Feitiço do Tempo constrói toda
uma narrativa vinculada aos modelos repetitivos dos rituais das relações
humanas.
Na história,
Phil, um repórter bem-sucedido, mas entediado com as atribuições do dia a dia,
tem de fazer a cobertura do Dia da Marmota, evento de uma pequena cidade
estadunidense que comemora a vinda do inverno, tendo como mascote o roedor mais
famoso da região.
Após a cobertura
das festividades, acontece o inusitado: um temporal está para chegar à cidade,
e Phil tem de permanecer na cidadezinha por mais tempo.
Se Phil já
estava insatisfeito com as atividades de cobertura do evento, imagina ter de
passar mais um dia na cidade?
É aí que
acontece a controvérsia: o nosso herói passa a perceber o mundo em repetição
infinita, em que o Dia da Marmota nunca termina. E todas as manhãs são vividas
da mesma forma, sob os mesmos acontecimentos, em um movimento sem fim.
Durante todo a
história, Phil passa por repetições atrás de repetições, fator este que afeta o
protagonista, pois a cada dia em que os eventos se repetem, ele tem de se
reinventar para não enlouquecer.
Caro Leitor,
podemos parar a história por aqui? Melhor será se você assistir ao filme; até
ver de novo se achar necessário; assim você poderá refletir por si em torno das
rotinas que nos devora no dia a dia.
Olhares sobre o filme
Quando
observamos as figuras contidas no filme, podemos tirar algumas reflexões
interessantes: a rotina pode ser um elemento de estagnação diante da vida?
Ou a vida pode ser
um vai e vem que nos leva à dialética permanência-mudança?
E no trabalho
como lidamos com a rotina das atividades e processos?
Vamos ficar
parados diante do real?
Ou vamos nos
transformar diante das forças do cotidiano e estabelecer mudanças na nossa
realidade?
A dinâmica permanência-mudança
Podemos dizer
que a relação mudança-permanência é dinâmica, pois necessitamos de ora repetir
ações em nosso cotidiano, ora inovar e fazer de forma diferente algo que esteja
sob nossa incumbência.
Por isto de
passarmos por situações em que há predominância de repetições; daí sermos
governados pelas regras, pela unidade e pela uniformidade.
Mas, em outros
momentos, vem a nós um impulso de mudança, que produz alterações nos rumos que
tomamos e nos leva a mudar os rumos de nossa vida, usando a criatividade e a
inovação.
Voltando a
Feitiço do Tempo, o filme nos propõe essa discussão universal sobre a
necessidade de tomarmos os rumos de nossa jornada existencial quanto à
constância em nossas atitudes ou à disposição para agir diante das
circunstâncias a que somos submetidos na nossa existência.
Pois bem, as
preocupações de Phil e Sísifo são universais, mas a postura diante da dinâmica
permanência-mudança pertence a cada um de nós.
Dados do filme
- O que é? Feitiço do Tempo
- Quem dirigiu? Harold Ramis
- Quem atuou? Bill Murray e Andie Macdowell
Como posso usar em sala de aula?
# discutir a
dialética permanência-mudança no ambiente de trabalho
# analisar as
nuances da rotina no trabalho: desgaste ou oportunidade de mudança?
# discutir a
responsabilidade das pessoas diante da vida cotidiana nas empresas
Bingo! A tradução do título do filme foi ímpar por criar proximidade com a temática da
trama. No original em inglês, o título é Groundhog Day, que em tradução
literal seria “Dia da Marmota”, mas foi traduzido com inteligência para Feitiço
do Tempo.
Ponto para os
criadores.
Até a próxima
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