04/11/2019

Permita que o educando enxergue a vida com os próprios olhos

Imagem Enxergar a vida com os próprios olhos




Quando eu era jovem, minha mãe sempre me dava conselhos e avisos sobre os perigos da vida. Mas como todo adolescente, eu não seguia muito aqueles conselhos e vez por outra passava por alguma intempérie na vida.


Eram naqueles momentos de contratempos que eu descobria o que era necessário aprender. Aí a gente voltava a discutir e ela me dizia aquela frase famosa: “Eu te disse!”.


Mas não era sempre assim, em outras situações eu aprendia coisas diferentes do que minha mãe ensinava e rediscutíamos as situações que vida me oferecia.


O professor tende a assumir o papel de pais e se arvoram a querer direcionar a vida dos alunos. Então se antecipam em explicar em detalhes os conteúdos didáticos, o que acaba por diminuir as possibilidades de os educandos errarem e construírem os próprios conhecimentos.


É por essas coisas que muitos textos aqui no E-Praxe se repetem, sugerindo ao educador que abra espaços para o debate e a discussão saudáveis nos ambientes de ensino-aprendizagem.


É nos momentos da discussão que os educadores podem identificar um pouco do que os alunos conhecem e o que estes precisam aprender. Na discussão o educador aprende caso permita-se viver a situação de aprendiz também.


Para o educador iniciar discussões com os alunos, ele precisa estabelecer um contrato de confiança entre as partes. Os educandos não precisam se sentir ignorantes e ridículos diante do educador, mas eles entendem que a situação de ignorância pode ser passageira, pois há um profissional na turma e colegas em relação cooperativa, que o ajudarão a compreender os novos mundos que se interpõem entre os sujeitos de aprendizagem que estão na sala de aula.


Não é fácil discutir, pois no momento do debate estão presentes os conscientes e os inconscientes de todos os participantes. É por este motivo que as discussões são dinâmicas e não são comportadas somente na categoria da lógica, mas precisam tanto da lógica quanto da dialética, para que as interações entre as pessoas contribuam para que todos aprendam.


Discutir é uma aprendizagem para a vida toda, porque sempre vai aparecer algo na relação discursiva que é surpresa para os envolvidos, o que exigirá novos posicionamentos e novas estratégias para lidar com o incontornável e o desconhecido.


Depois de uns 10 minutos de fala empolgante do professor, a aula expositiva se torna monótona e cansativa. Os educandos desejam falar também. Quando não conseguem falar, desviam-se do assunto e vão procurar outros mundos por meio da imaginação, pois a nossa mente não é boba, muito menos nossa emoção.


É comum muita gente falar de diálogo e de valorização das experiências dos educandos, mas as práticas são outras: o trabalho no ambiente educacional se firma  como mais de ansioso depósito de conhecimentos na cabeça dos alunos, do que de compartilhamento de experiências. Isto é uma contradição que precisa ser repensada.


O professor pode se perguntar: “E se os alunos não aprenderem as coisas que ensinei com tanto esforço?”. É o risco que todo educador precisa aprender a administrar. Os educandos não serão a representação da imagem e da alma dos educadores. Eles precisam ser eles próprios. Ter identidade é uma dimensão da cidadania. O que o educador precisa é ter o compromisso técnico e político para discutir com os educandos os saberes que foram construídos pela humanidade.


Chegou a hora de o educando enxergar a vida com os próprios olhos. É mais demorado, é mais difícil, mas é um bom caminho para a pedagogia da autonomia.