Quando eu era jovem, minha mãe sempre me dava conselhos e
avisos sobre os perigos da vida. Mas como todo adolescente, eu não
seguia muito aqueles conselhos e vez por outra passava por alguma intempérie na
vida.
Eram naqueles momentos de contratempos que eu descobria o que
era necessário aprender. Aí a gente voltava a discutir e ela me dizia aquela
frase famosa: “Eu te disse!”.
Mas não era sempre assim, em outras situações eu aprendia
coisas diferentes do que minha mãe ensinava e rediscutíamos as situações que vida me oferecia.
O professor tende a assumir o papel de pais e se arvoram a
querer direcionar a vida dos alunos. Então se antecipam em explicar em detalhes
os conteúdos didáticos, o que acaba por diminuir as possibilidades de os educandos
errarem e construírem os próprios conhecimentos.
É por essas coisas que muitos textos aqui no E-Praxe se
repetem, sugerindo ao educador que abra espaços para o debate e a discussão
saudáveis nos ambientes de ensino-aprendizagem.
É nos momentos da discussão que os educadores podem
identificar um pouco do que os alunos conhecem e o que estes precisam aprender.
Na discussão o educador aprende caso permita-se viver a situação de aprendiz
também.
Para o educador iniciar discussões com os alunos, ele precisa
estabelecer um contrato de confiança entre as partes. Os educandos não precisam se
sentir ignorantes e ridículos diante do educador, mas
eles entendem que a situação de ignorância pode ser passageira, pois há um
profissional na turma e colegas em relação cooperativa, que o ajudarão a
compreender os novos mundos que se interpõem entre os sujeitos de aprendizagem
que estão na sala de aula.
Não é fácil discutir, pois no momento do debate estão
presentes os conscientes e os inconscientes de todos os participantes. É por
este motivo que as discussões são dinâmicas e não são comportadas somente na categoria
da lógica, mas precisam tanto da lógica quanto da dialética, para que as interações entre as pessoas contribuam para que todos aprendam.
Discutir é uma aprendizagem para a vida toda, porque sempre
vai aparecer algo na relação discursiva que é surpresa para os envolvidos, o
que exigirá novos posicionamentos e novas estratégias para lidar com o
incontornável e o desconhecido.
Depois de uns 10 minutos de fala empolgante do professor, a
aula expositiva se torna monótona e cansativa. Os educandos desejam falar
também. Quando não conseguem falar, desviam-se do assunto e vão procurar outros
mundos por meio da imaginação, pois a nossa mente não é boba, muito menos nossa
emoção.
É comum muita gente falar de diálogo e de valorização das
experiências dos educandos, mas as práticas são outras: o trabalho no ambiente
educacional se firma como mais de ansioso depósito de conhecimentos na cabeça dos alunos, do que de compartilhamento de experiências.
Isto é uma contradição que precisa ser repensada.
O professor pode se perguntar: “E se os alunos não
aprenderem as coisas que ensinei com tanto esforço?”. É o risco que todo
educador precisa aprender a administrar. Os educandos não serão a representação
da imagem e da alma dos educadores. Eles precisam ser eles próprios. Ter
identidade é uma dimensão da cidadania. O que o educador precisa é ter o
compromisso técnico e político para discutir com os educandos os saberes que
foram construídos pela humanidade.
Chegou a hora de o educando enxergar a vida com os próprios
olhos. É mais demorado, é mais difícil, mas é um bom caminho para a pedagogia
da autonomia.
Até a próxima!
+Postagens