12/08/2019

A educação no mundo das bolhas

Imagem A educação no mundo das bolhas


A gente vive dentro de bolhas o tempo todo. As bolhas estão em nosso ciclo de colegas de trabalho, na comunidade religiosa da qual fazemos parte ou na torcida do time que tanto amamos.

A gente está em bolhas também quando escolhe grupos com ideias parecidas as nossas e não desejamos ouvir opiniões de pessoas das quais discordamos.

A gente participa de bolhas quando opta por um determinado canal de TV ou ler determinados autores da área de interesse de que gostamos.

A gente também é envolvido em bolhas quando as empresas captam nossos dados e ofertam caminhos para que sigamos dentro do mundo hipermidiático.

A gente mergulha em bolhas quando segue as pessoas que admira nas redes e evita pessoas que se opõem a nós em algum aspecto.

Isto tudo é normal, mas pode se transformar em problema quando essas bolhas das quais participamos tornam nossa vida um redemoinho e nos impede de ver o que está além da percepção de nossos grupos.

É quando nos filiamos ao pensamento único...

O mundo é diverso. Isto é real. As pessoas nem sempre comungarão das mesmas ideias que as nossas.

Essa convivência limitada às bolhas precisa ser discutida nos ambientes de aprendizagem, nos templos religiosos, nos espaços comunitários e corporativos. Afinal de contas, precisamos viver em filtros, mas também precisamos aprender a sair deles, para que possamos conhecer o mundo na totalidade.

É necessário que fiquemos atentos para não perdermos nossa capacidade de discernimento quanto ao real e à verdade.

Em um mundo imerso em bolhas, precisamos cultivar o pensar por nós próprios; de desenvolver a nossa capacidade de autoria e autonomia e não nos deixarmos levar por atos reativos e automatizados, que limitam a reflexão e o pensamento crítico.

Quando não desenvolvemos a autoria e a autonomia, somos mais facilmente levados pelas ondas dos antagonismos, das polêmicas e das contradições e assim nos afastamos cada vez mais do diálogo.

Diálogo como projeto de vida, que faz de nós seres de identidade e de opinião, mas que consegue fazer pontes entre os que nós pensamos e fazemos e o que os outros experimentam de forma diferente da nossa.

Eu penso e sinto; o outro pensa e sente também, diferente de mim, é claro.
O diferente precisa existir para que o eu floresça e cresça, pois se todos pensarem da mesma forma, o mundo perderá a graça.

O educar-se para o mundo das bolhas, com esses filtros cada vez mais sofisticados, é justamente desenvolver a capacidade de reconhecer-se diante do mundo e, ao mesmo tempo, reconhecer o outro na inteireza.


Vale mais uma reflexão

Para conviver precisamos que os objetivos entre o eu e os outros sejam para a formação e o engrandecimento da humanidade. Nesta perspectiva os antagonismos, as divergências e as contradições poderão servir de insumo para o crescimento de todos, mas não poderão ser usados para nos limitar nos encontros que estabelecemos com os demais.

Para finalizar

Nos cadernos de orações da igreja Católica havia um verso que era muito cantado nos ensaios dos corais que muito me lembra a questão deste estado de bolhas: era um alerta;
Os versos eram mais ou menos assim:

"Palavra não foi feita para dividir ninguém 
Palavra é a ponte onde o amor vai e vem
Palavra não foi feita para dominar
Destino da palavra é dialogar"