As séries de TV
exploram com mais frequência as profissões de advogado, médico e policial
(investigador). Com isto nos acostumamos a interagir com um conjunto mais
restrito de condução de enredos desse tipo de gênero discursivo.
Mad Men vai pelo
lado avesso da tríade acima quando centraliza a história em torno dos
profissionais da publicidade.
E mais: a série
consegue trazer vários elementos que servem de discussão sobre cultura
organizacional no mundo dos escritórios das grandes empresas estadunidenses.
Na verdade os
autores conseguem retratar muitos dos elementos da sociabilidade do trabalho,
narrando situações de compra e venda de empresas, disputa interna de poder
entre outros assuntos palpitantes.
Se o espectador
deseja uma história de ritmo acelerado, cheio de surpresa e clímax, não
encontrará esse delineamento na série, pois cada capítulo solicita uma jornada
de aproximações e reaproximações a cada assunto tratado.
Se o espectador
deseja assistir a mais de um capítulo por vez, fazendo aquelas famosas
maratonas de ver mais de cinco capítulos por vez, vai se decepcionar com Mad
Men, pois cada parte da história provoca reflexões sobre valores existenciais a
que estamos expostos na dinâmica das relações humanas, o que nos obriga curtir
cada capítulo com a devida atenção. É a abordagem do se divertir pensando.
A série traz
assuntos polêmicos sobre as relações sociais no trabalho e consegue discutir
desde temas como a participação feminina no mundo trabalho até os efeitos da
vida laboral na vida dos trabalhadores.
Lá é possível
navegar em situações relacionadas a questões sobre homossexualidade e
preconceito racial, indo até as restrições impostas à mulher por ser mulher no
campo de trabalho, que tenta se perpetuar no masculino.
Lá também sãos
retratadas as situações inusitadas a que as mulheres da década de 1960
passaram: entre a condição de ir à labuta na condição de trabalhadora
corporativa ou à luta cotidiana do trabalho dentro de casa.
Achou pouco?
A narrativa é
construída tendo como pano de fundo as mudanças sociopolíticas dos anos 1960.
Há um momento interessante em que a população discute se Cuba irá jogar bombas
nos Estados Unidos. Nas cenas as pessoas, aparentemente esclarecidas, deixam-se
levar pelas mensagens midiáticas e ficam exasperadas pelos noticiários sobre
uma possível guerra envolvendo os Estados Unidos.
Na verdade a série
consegue mostrar como os fatores extrínsecos aos processos de trabalho, como
relações familiares e interfaces políticas e econômicas, influenciavam a
cultura das empresas da época.
E os clientes?
A depender das
relações de poder estabelecidas entre fornecedor e clientes, as ingerências
externas era preponderantes em afetar o comportamento organizacional.
Mad Men consegue
também levar ao máximo o nível de verossimilhança: enquanto assistimos a cada
capítulo, percebemos identificações com o mundo corporativo do final do milênio
passado e início da atual era. Isto é coisa de ficção bem elaborada.
Quem trabalha com
cultura, clima e comportamento organizacionais tem Mad Men como excelente
recurso para discutir questões sobre o poder nas instituições, a dinâmica ética
nas interações humanas e outras temáticas que levem à reflexão sobre a
sociabilidade corporativa.
Na série o lúdico e
a aprendizagem são indissociáveis. O espectador descobre coisas novas com a
trama e tem a possibilidade de refinar o senso crítico sobre as mediações
humanas dentro das corporações.
Assista, aprenda e
divirta-se!