22/10/2018

Aprender cultura organizacional com Mad Men




As séries de TV exploram com mais frequência as profissões de advogado, médico e policial (investigador). Com isto nos acostumamos a interagir com um conjunto mais restrito de condução de enredos desse tipo de gênero discursivo.

Mad Men vai pelo lado avesso da tríade acima quando centraliza a história em torno dos profissionais da publicidade.

E mais: a série consegue trazer vários elementos que servem de discussão sobre cultura organizacional no mundo dos escritórios das grandes empresas estadunidenses.

Na verdade os autores conseguem retratar muitos dos elementos da sociabilidade do trabalho, narrando situações de compra e venda de empresas, disputa interna de poder entre outros assuntos palpitantes.

Se o espectador deseja uma história de ritmo acelerado, cheio de surpresa e clímax, não encontrará esse delineamento na série, pois cada capítulo solicita uma jornada de aproximações e reaproximações a cada assunto tratado.

Se o espectador deseja assistir a mais de um capítulo por vez, fazendo aquelas famosas maratonas de ver mais de cinco capítulos por vez, vai se decepcionar com Mad Men, pois cada parte da história provoca reflexões sobre valores existenciais a que estamos expostos na dinâmica das relações humanas, o que nos obriga curtir cada capítulo com a devida atenção. É a abordagem do se divertir pensando.
 
A série traz assuntos polêmicos sobre as relações sociais no trabalho e consegue discutir desde temas como a participação feminina no mundo trabalho até os efeitos da vida laboral na vida dos trabalhadores.

Lá é possível navegar em situações relacionadas a questões sobre homossexualidade e preconceito racial, indo até as restrições impostas à mulher por ser mulher no campo de trabalho, que tenta se perpetuar no masculino.

Lá também sãos retratadas as situações inusitadas a que as mulheres da década de 1960 passaram: entre a condição de ir à labuta na condição de trabalhadora corporativa ou à luta cotidiana do trabalho dentro de casa.

Achou pouco?

A narrativa é construída tendo como pano de fundo as mudanças sociopolíticas dos anos 1960. Há um momento interessante em que a população discute se Cuba irá jogar bombas nos Estados Unidos. Nas cenas as pessoas, aparentemente esclarecidas, deixam-se levar pelas mensagens midiáticas e ficam exasperadas pelos noticiários sobre uma possível guerra envolvendo os Estados Unidos.

Na verdade a série consegue mostrar como os fatores extrínsecos aos processos de trabalho, como relações familiares e interfaces políticas e econômicas, influenciavam a cultura das empresas da época.

E os clientes?
A depender das relações de poder estabelecidas entre fornecedor e clientes, as ingerências externas era preponderantes em afetar o comportamento organizacional.

Mad Men consegue também levar ao máximo o nível de verossimilhança: enquanto assistimos a cada capítulo, percebemos identificações com o mundo corporativo do final do milênio passado e início da atual era. Isto é coisa de ficção bem elaborada.

Quem trabalha com cultura, clima e comportamento organizacionais tem Mad Men como excelente recurso para discutir questões sobre o poder nas instituições, a dinâmica ética nas interações humanas e outras temáticas que levem à reflexão sobre a sociabilidade corporativa.

Na série o lúdico e a aprendizagem são indissociáveis. O espectador descobre coisas novas com a trama e tem a possibilidade de refinar o senso crítico sobre as mediações humanas dentro das corporações.

Assista, aprenda e divirta-se!